Árvore do Rio: Luz e Magia que Florescem na Lagoa
A retomada da Árvore do Rio, acesa neste sábado, 6 de dezembro de 2025, na Lagoa Rodrigo de Freitas, após cinco anos de inatividade, revela-se muito mais que um espetáculo natalino. É a demonstração, em escala monumental, da insistência da cidade em transformar a Lagoa em um grande parque temático durante o mês de dezembro.
Cerca de 200 mil pessoas se distribuíram por dois pontos estratégicos, o Complexo Lagoon e o Parque do Cantagalo, e, como um colar de pérolas estendido ao redor do espelho d’água, ocuparam todo o perímetro lagunar. Observavam, atentas e cheias de expectativa, a celebração que combinou tecnologia, música, discursos institucionais e uma nostalgia cuidadosamente programada.
O resultado foi um universo festivo que impressiona não apenas pela grandiosidade, mas pela sedutora magia capaz de prender os olhares encantados por seus artifícios luminosos.
O evento trouxe uma novidade que ampliou ainda mais o encanto da noite: a sincronização dos canhões de luz que acionam a iluminação do Cristo Redentor no Corcovado, diariamente, até 6 de janeiro de 2026. Todos os dias, esse acionamento será feito por uma personalidade urbana criteriosamente escolhida, alguém que represente, simbolicamente, a população carioca em sua pluralidade. Na noite de estreia, o primeiro gesto coube à presidente da Petrobras, Magda Chambriard, ao lado do prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes. A imagem produzida por essa coreografia luminosa cria uma espécie de dramaturgia celestial, na qual a Árvore e o Cristo parecem dialogar à distância, trocando sinais que atravessam a noite como um recado silencioso à cidade.
Nesse encontro de monumentos, a técnica se disfarça de milagre e a tecnologia se converte em poesia. O resultado é um momento de comoção cuidadosamente ensaiado, no qual luzes e expectativas se alinham para provocar, em quem assiste, uma emoção que permanece mesmo depois que o brilho se dissolve no espelho escuro da Lagoa.
A programação artística buscou amplitude e apelo democrático ao intercalar diferentes atmosferas sonoras dentro do Complexo Lagoon. Antes e depois da cerimônia principal, o DJ convidado manteve o clima de festa com uma seleção de música pop em ritmo vibrante, aquecendo o público que aguardava o acendimento. No palco montado sobre o espelho d’água, a Orquestra Petrobras Sinfônica, regida por Felipe Prazeres e acompanhada pela solista Analu Pimenta, apresentou um repertório que percorreu temas natalinos, clássicos populares e sucessos da música brasileira, entre eles Tico-Tico no Fubá e A Voz do Morro, além de trechos de Tchaikovsky que evocavam o imaginário encantado de O Quebra-Nozes.
Embora impecáveis em execução, as escolhas musicais seguiram caminhos já consagrados pelo grande público, apostando mais no conforto da tradição do que na ousadia. Trata-se de um mosaico sonoro que privilegia a familiaridade e acolhe o espectador presente no Lagoon com uma trilha harmoniosa e segura para acompanhar o espetáculo de luzes. É uma opção estética que não surpreende, mas abraça; não arrisca, mas confirma a vocação do evento para emocionar pelo que já faz parte da memória afetiva da cidade. É justamente nesse território do reconhecível que reside parte de seu encanto.
Nesta edição de 2025, a Árvore do Rio incorpora a sustentabilidade como parte de sua narrativa luminosa. A operação utiliza Diesel R, um combustível de base renovável que representa um avanço real na busca por soluções mais responsáveis para grandes eventos urbanos. É um gesto que revela, antes de tudo, a disposição de equilibrar tradição e modernidade, reconhecendo que o brilho intenso de vinte quilômetros de LED e neon flex pode conviver com escolhas mais conscientes. Há algo de bonito nessa tentativa de conciliar espetáculo e cuidado ambiental, como se a cidade, por meio da Petrobras, ensaiasse um modo mais gentil de iluminar suas noites. Não resolve todos os dilemas do nosso tempo, mas ilumina um caminho possível, e talvez seja justamente essa combinação de vontade, ciência e imaginação que sustenta a magia da Lagoa neste dezembro.
Os dois polos da Lagoa foram convertidos em pontos experimentais, reunindo feira de artesanato, espaços instagramáveis, a Casa do Papai Noel e até pedalinhos agendados via aplicativo. A multiplicidade de atrações confirma que a Árvore do Rio vai além de um símbolo: ela se afirma como um produto cultural e turístico concebido para o encontro e para o olhar curioso de quem percorre suas margens. A gratuidade, frequentemente destacada, é mediada pela necessidade de agendamentos prévios, reforçando a lógica de organização e controle típica de grandes programações. Ainda assim, há algo de poético no fato de que tudo isso tenha sido erguido em apenas trinta dias, como se a cidade, movida por urgência e expectativa, tivesse tecido uma festa inteira no intervalo de um fôlego.
É inegável que a Árvore do Rio preserva algo que ultrapassa o espetáculo, uma espécie de pacto silencioso entre a cidade e seus habitantes. Talvez seja a memória que volta a respirar, talvez o brilho que se multiplica no rosto de quem chega pela primeira vez, ou simplesmente essa capacidade que o Rio tem de transformar luz em afeto. No exato momento em que a Árvore se acendeu, a lua cheia surgiu por trás do relevo, discreta e atenta, como quem chega para acompanhar o acontecimento. Não competia com os LEDs nem com os fogos; apenas observava, com seu olhar dourado, o encontro entre a Lagoa, a cidade e aquela festa de luz cuidadosamente coreografada. Entre passos, risos e celulares erguidos, forma-se uma coletividade provisória, mas vibrante, que se reconhece naquele instante compartilhado, mesmo sabendo que tudo se apoia em estruturas construídas para parecerem espontâneas.
A reinauguração de 2025 reafirma o que já intuíamos: o Natal carioca continua sendo um rito de grande escala, capaz de comover pela competência técnica e pela emoção que desperta. Mas há também algo mais difícil de nomear que surge quando a Lagoa se acende e a cidade parece prender o fôlego por um instante. Entre o deslumbramento e o excesso, permanece uma pergunta que não é crítica, mas convite: de onde vem, afinal, essa magia que insiste em nos tocar, das mãos que acendem os refletores ou da própria cidade, que nunca deixa de inventar seus milagres?
Por Mauro Senna


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