CASACOR RIO DE JANEIRO - Casa Origem
Em um cenário onde o design de interiores muitas vezes se confunde com ostentação mal interpretada, Casa Origem entra em cena como uma espécie de antídoto silencioso. É um projeto que não pede licença para impressionar, simplesmente entra, descalço, e ocupa com elegância o espaço que merece. Com apenas 70 metros quadrados o bastante para ser chamado de “mínimo” por quem mede valor em metros, o estúdio nos entrega um manifesto arquitetônico onde o essencial é tratado com reverência.
Aqui, luxo é uma palavra que se retira para dar lugar à inteligência. Nada grita, tudo sussurra. Nada se exibe, tudo se insinua. Em vez de paredes, o projeto ergue intenções. Em vez de divisórias, ele constrói diálogos. O resultado é uma casa que parece respirar e que convida quem entra a fazer o mesmo.
O living é o primeiro ato dessa dramaturgia silenciosa. Um grande tapete, longe de ser apenas apoio para os pés, assume o protagonismo com desenho autoral que remete à cerâmica, fundando o chão como quem planta raízes de estética. O gesto é calculado, quase coreografado, e nos lembra que o bom gosto não precisa de holofotes basta ter firmeza.
Na área de jantar, uma muralha de pedra natural segura o peso da sofisticação com uma sobriedade que beira o teatral. Há aqui um brutalismo tímido, discreto como um toque que não se anuncia, mas marca. E a cozinha, longe da ânsia instagramável que aflige tantos projetos, entende seu papel como coadjuvante de luxo: silenciosa, funcional, fluida. Sua beleza está no autocontrole e isso, convenhamos, é raríssimo.
Na suíte, a marcenaria atua como mediadora de privacidade: não bloqueia, apenas sugere. A cama repousa como quem sabe que o conforto é também um estado de espírito. E o banheiro talvez o ápice da casa é uma cápsula de prazer minimalista, um spa disfarçado de cotidiano, onde o paisagismo não decora, mas pontua, como uma vírgula bem colocada.
No entanto, o verdadeiro mérito da Casa Origem não está na beleza (embora ela transborde), nem na funcionalidade (embora seja precisa). Está na capacidade rara de manter a identidade sem se tornar autorreferencial. De ser palco, sem roubar a cena da vida que ali acontece. De ser discreta, sem jamais ser indiferente.
Em tempos de exageros arquitetônicos, Casa Origem é uma aula de contenção com conteúdo. Um projeto que nos lembra que sofisticação não é sobre mais, mas sobre melhor. E que o verdadeiro design assim como a verdadeira arte sabe a hora certa de calar.
Por Mauro Senna
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