CasaCor Rio 2025: Casa Brisa Deca

 

A Casa Brisa Deca revela-se como um organismo habitável, pulsando suavemente no compasso das relações humanas mais essenciais. Seu epicentro, a cozinha,  transcende a funcionalidade tradicional e se expande como membrana conectora entre os fluxos domésticos, dissolvendo limites entre estar e viver. Neste ambiente, o cotidiano não é interrompido por formalidades; ao contrário, ele é celebrado em sua nudez mais honesta, quase silenciosa, mas sempre presente.

A escolha material fala menos de ornamento e mais de presença. Pedra natural e madeira maciça coexistem em uma tensão harmoniosa, onde a rusticidade não agride, mas embala como se a natureza, em seu estado bruto, tivesse sido apenas suavemente esculpida para habitar conosco. As formas orgânicas que percorrem o espaço não obedecem a um traçado rígido; elas se insinuam, escorregam pelas superfícies, tangenciam os volumes com a leveza de um sopro constante, brisa, afinal.

A paleta cromática caminha por entre os tons neutros e verdes acinzentados com discrição coreografada. Nada salta aos olhos de forma abrupta: há um convite à permanência visual, à contemplação sem foco, ao descanso da retina. Os detalhes em dourado escovado, utilizados com extrema parcimônia, aparecem como vestígios de um luxo que se recusa a ser proclamado  um brilho contido, quase sussurrado.

A iluminação, deliberadamente difusa, dissolve sombras e evita contrastes dramáticos, contribuindo para essa atmosfera que não quer impressionar, mas sim acolher. É uma luz que não exige atenção, apenas a oferece. Da mesma forma, o mobiliário pensado não como peça, mas como extensão do próprio espaço que abriga funções e histórias. Há ali um design que respeita o tempo, que guarda a memória da matéria sem renunciar à lógica da usabilidade.

No todo, a Casa Brisa Deca não se mostra, ela se deixa perceber. Seu projeto, sem histrionismos, respira com a fluidez de quem compreende o espaço como território de relação e repouso. É um manifesto da delicadeza como potência.

Por Mauro Senna

Fotos: MSenna 

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