CASACOR 2025 - Jardim das Reminiscências
O jardim. Esse pedaço de terra onde o ser humano, cansado de lidar com boletos, filas de banco e reality shows, decide plantar algo que não seja discórdia. E neste caso específico, temos um jardim que, além de celebrar a vida, parece ter feito as pazes com o tempo, a natureza e até com a memória daquela avó que usava lavanda até pra ir dormir.
Logo de entrada, somos recebidos por uma vegetação tão exuberante que, se fechar os olhos, dá pra jurar que estamos no meio de uma novela das seis passada na Bahia. Jasmim-manga perfumando o ar como se fosse o Chanel Nº5 da flora tropical, e frutíferas tão suculentas que até Adão e Eva se pegariam discutindo se valia ou não a mordida. É quase um botânico-cabaré de cores e cheiros, um lugar onde a flora dá close e a fauna aplaude.
O mobiliário, por sua vez, é orgânico. E quando digo "orgânico", não é porque foi comprado na feirinha natureba da praça. É que ele realmente parece ter brotado dali, como se a Mãe Natureza tivesse dito: “Peraí que eu vou desenhar essa poltrona aqui com um cipó e um leve toque de madeira reciclada com cara de brunch dominical em Santa Teresa.”
No centro desse Éden instagramável, repousa a mesa de trabalho da paisagista uma legítima peça de antiquário, carregada de memórias, traças e talvez um ou dois segredos da década de 50. Ela emana aquele cheiro de história, madeira e talvez um leve perfume de naftalina o que, convenhamos, só dá mais charme. A mesa é tão nostálgica que se falasse, soltaria um “no meu tempo, jardim era jardim e não esse parque temático tropical!”
E como toda novela boa tem uma escada para a vilã descer, aqui as escadas são, literalmente, o ponto alto do enredo. As esculturas de Mercedes Lachmann entre o primeiro e o segundo andar parecem flutuar como quem diz “olha como eu sou conceitual e nem precisei de filtro.”
Enfim, esse jardim é uma celebração: da vida, da arte, da memória e do poder de um bom paisagismo que sabe misturar flora com filosofia, e mobiliário com memória afetiva. É um espaço onde a natureza dança, a arte performa e, se bobear, até a samambaia tem opinião.
fotos: msenna
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