ArtRio 2025 - Janaina Torres Galeria
A colaboração entre Heloisa Amaral Peixoto e Janaina Torres funciona como um gesto arqueológico invertido: ao invés de escavar o passado, as curadoras injetam nele uma poética do agora. As obras não estão ali para serem vistas — elas vigiam, murmuram, resistem. Cada artista se lança em um tipo de cartografia íntima, onde os limites entre história e presente se borram, como se o tempo escorresse pelas frestas de um Brasil plural, sincrético, em ebulição.
A pluralidade aqui não é tema é estrutura.
Sandra Mazzini costura o real com o sonho em pinceladas que parecem exalar o cheiro da terra molhada depois da tempestade. Feco Hamburger implode o objeto escultórico, transformando-o em enigma. Liene Bosquê e Lía Ferreira reorganizam a matéria como quem colhe destroços do afeto urbano. Caio Pacela e Deborah Paiva criam ruídos visuais que reconfiguram a percepção, quase como interferências em uma transmissão coletiva de ancestralidades.
Cada gesto é uma cicatriz que ainda pulsa.
E o que pulsa, inevitavelmente, convoca. Convoca o corpo do visitante a se desestabilizar não há percurso linear possível. Cada obra é um desvio. O estande é um território em suspensão, onde a estética torna-se gesto político, e a política, por sua vez, se revela como intimidade radical. Não se trata de representar o Brasil contemporâneo, mas de fazê-lo transbordar.
A Janaina Torres Galeria, ao invés de organizar a diferença, a deixa ecoar. Não entrega respostas, mas possibilidades. O estande é convite e confronto. É mapa e escombro. Um lugar onde as vozes dos artistas não se sobrepõem, mas se atravessam, criando uma sinfonia dissonante que pede escuta atenta e olhos desacostumados.
Por Mauro Senna
Fotos: MSenna


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