O Rei da Feira – Crítica do filme de Felipe Joffily com Leandro Hassum

 

Assistir a O Rei da Feira exige quase tanta coragem quanto realizá-lo. O filme parte de uma premissa inusitada — um policial médium que investiga crimes em uma feira popular — e a trata como se fosse a reinvenção do gênero. O problema é que, entre a intenção e o resultado, sobra apenas uma colagem de ideias mal costuradas, sem unidade.

O cenário tinha tudo para render narrativas visualmente ricas e culturalmente vibrantes. No entanto, o filme se perde em excessos de estilo e escolhas narrativas que confundem ousadia com desorganização. A sensação é de um projeto que começou com boas intenções, mas se esgotou antes de encontrar o tom que buscava.

Na direção, Felipe Joffily aposta na velocidade da câmera e em filtros visuais como se fossem sinônimos de ritmo. O resultado, porém, é mais cansativo do que inventivo. A câmera, que poderia funcionar como recurso narrativo criativo, oscila tanto que acaba virando uma distração por si mesma.

Leandro Hassum, sempre um nome de peso na comédia nacional, parece dividido entre o humor característico que o consagrou e a tentativa de assumir uma faceta mais séria. No fim, nenhuma das duas abordagens se impõe de forma convincente, e sua presença, ainda que carismática, não consegue sustentar a trama.

O elenco de apoio demonstra empenho, mas o roteiro não lhes oferece terreno firme. O mistério central, que deveria prender a atenção do público, esvazia-se cedo demais e torna a narrativa previsível, sem o impacto desejado.

No balanço, O Rei da Feira acaba sendo uma metáfora involuntária das dificuldades atuais da comédia nacional: barulhento, esteticamente saturado e ansioso por provar-se maior do que é. Uma obra que quis ser múltipla e acabou diluída.

Você vai rir? Talvez, em momentos isolados. Vai se emocionar? Difícil. Vai sair refletindo? Sim — mas sobre como até boas ideias precisam de mais consistência para não se perderem na feira de excessos do cinema comercial.

Por Mauro Senna