Trailer "Avatar: Fogo e Cinzas"

 

James Cameron, com a delicadeza de uma explosão tectônica e a sutileza de um cometa radioativo, retorna com “Avatar: Fogo e Cinzas” — o terceiro mergulho (ou ascensão, agora alada) nesse universo onde tudo brilha como se fosse feito de gelatina espiritual. Se nos dois primeiros filmes éramos conduzidos pelas raízes da Árvore das Almas ou pelas correntezas do mar bioluminescente, aqui o chão é lava. Literalmente.

Os Sully alçam voo agora em bestas celestes de pura psicodelia evolutiva — criaturas translúcidas que lembram arraias-manta angelicais, puxando navios voadores com a solenidade de um sonho lúcido em meio a uma rave cerimonial. É nesse delírio aéreo que surge a Nação do Fogo: pálida, famélica, pintada como caveiras ritualísticas, trazendo à tela o cheiro acre de gasolina e ressentimento ideológico. Não são apenas antagonistas — são fanáticos crepitantes que declaram: “Sua deusa não tem domínio aqui.” Frase que, por sinal, poderia tranquilamente estampar camisetas ou tatuagens de gosto duvidoso, se ainda não estiver por aí.

E não dá para ignorar o elefante (de quatro metros e azul) na sala: Cameron chamou sua saga de “Avatar” e agora flerta perigosamente com a ideia de povos ligados a elementos — floresta, água, fogo — como se não existisse um menino careca e carismático chamado Aang flutuando pelo inconsciente coletivo de uma geração inteira. Coincidência? Talvez. Descaramento? Quase certeza.

O retorno de Quaritch, agora um duplo agente cultural com lança-chamas e frases de efeito, promete fricções intensas com Spider, seu filho criado entre lianas e gritos Na'vi. Prepare-se para sessões de terapia interespécies. Também há rachaduras no casal dourado dos Sully: Jake berra para Neytiri com a intensidade de uma telenovela interestelar — “Você não pode viver assim, baby! Com ódio!” — uma linha que implode qualquer suspensão de descrença e nos lembra que, sim, até aliens azuis têm DRs.

Mas o espetáculo está garantido: batalhas entre tribos voadoras, tanques humanos cuspindo morte, e claro — um tulkun. Um close no olho úmido de uma criatura-baleia que encara você como se conhecesse seus pecados mais profundos. Cameron sabe o que está fazendo. Ou, ao menos, acredita intensamente que sabe.

No fim, Fogo e Cinzas parece ser o ponto de ebulição de uma saga que quer ser tudo: alegoria ambiental, ópera familiar, crítica colonial e, agora — talvez inadvertidamente — uma colagem elemental que flerta com o plágio cósmico.

Se é um épico? Talvez.

Se é em 3D? Claro.

Se é promissor? Tenho dúvidas.

Se eu vou assistir? Não sei.

Para todos os outros que irão assistir sem margem de dúvidas — Kìyevame. E leve um extintor.

 

Por Mauro Senna


Comentários

Postagens mais visitadas