Mouse Trap: A Diversão Agora É Outra
"Mouse Trap" aspira ao status de uma produção cinematográfica de impacto, mas se apega tanto à sua premissa que esquece de ser, ao menos, minimamente interessante ou coerente. Ao transformar a imagem do Mickey Mouse em um agente do caos homicida – utilizando uma máscara sinistramente deformada e suja, que, embora disfarçada de glamouroso ícone roedor, remete à decadência – o filme tenta se apresentar ao público cinéfilo cult e ao fã de trash como uma realidade mal costurada e estagnada. No final, não consegue convencer nem mesmo os mais desiludidos apreciadores da cultura pop.
Dificilmente se pode apontar o que é mais perturbador: a tentativa de mesclar elementos grotescos com a nostalgia de uma era mais inocente, ou o desejo subjacente de que o filme se manifeste como uma sátira sombria do capitalismo e da infância.
Dirigido por Jamie Bailey, "Mouse Trap" se arrasta tentando fazer jus à sua proposta, mas se perde em seu próprio amadorismo. A tentativa de criar uma narrativa aterrorizante com uma figura tão intrinsecamente associada ao universo infantil se perde em uma trama mal estruturada, onde os elementos de terror se misturam de forma desajeitada com um thriller mal concebido. O resultado é uma história que, ao invés de gerar tensão ou curiosidade, gera confusão.
A trama gira em torno de Alex (Sophie McIntosh), uma jovem frustrada que trabalha em um centro de entretenimento corporativo, e de seu chefe, Tim (Simon Phillips), que, após vestir uma máscara do Mickey Mouse, se transforma inexplicavelmente em um assassino psicótico. A película não oferece uma justificativa convincente para essa transição, tampouco explica a relação entre a máscara e os impulsos violentos de Tim. Em vez disso, o filme insiste em diálogos vazios e personagens que mais parecem estereótipos decorativos do que seres humanos reais, sem qualquer conexão ou profundidade. O filme exige que o espectador aceite sua premissa absurda como parte de sua "magia", o que resulta em uma tentativa fracassada de construir uma mitologia insustentável.
O roteirista Simon Phillips, além de desempenhar um papel coadjuvante, tenta fazer referência a Steamboat Willie, como se isso fosse um feito de criatividade, em detrimento da construção de uma história minimamente envolvente. Ao tentar seguir a fórmula de "Blood and Honey", "Mouse Trap" mal consegue se apresentar como uma paródia eficaz. O que resta é uma sucessão de cenas desconexas e personagens sem alma, o que deixa o espectador com a sensação de que, ao invés de assistir a uma produção ousada, está apenas testemunhando uma sequência de eventos sem sentido.
A direção de Jamie Bailey falha em encontrar o tom correto. A produção soa barata, não apenas no sentido de um baixo orçamento, mas também na pobreza de sua concepção e na falta de inovação criativa. Isso destrói qualquer possibilidade de criar suspense ou tensão, mas, ao contrário, consegue proporcionar momentos de desconforto, recheados com diálogos insípidos e cenas irrelevantes.
"Mouse Trap" é uma tentativa lamentável e desesperada de lançar um produto "edgy" e "subversivo" no mercado cinematográfico, mas que não vai além de referências confusas e estereótipos vazios. Para quem esperava ver uma abordagem ousada de um ícone infantil, o filme se apresenta como um desfile de clichês mal executados e situações desconexas, incapaz de explorar qualquer potencial criativo.
Por Mauro Senna
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