Segredos

 

Se “Segredos” fosse uma obra de arte, estaria em uma galeria onde a iluminação é tão agressiva que ofusca a beleza do que realmente se vê. Dirigido por Emiliano Ruschel e escrito por ele e Trinidad Giachino, o filme é um turbilhão de clichês disfarçados de profundidade, estrelado por uma constelação de rostos conhecidos que parecem mais preocupados em manter a expressão de “estou aqui” do que em realmente atuar.

A premissa, centrada em uma mansão que mais parece um cenário de uma sitcom cafona, aborda a crise dos sete anos de casamento como se fosse uma nova receita de bolo, misturando segredos e traições como quem tenta fazer um coquetel com ingredientes estragados. Os flashbacks, que deveriam adicionar camadas à narrativa, são tão previsíveis que chegam a ser mais entediantes do que reveladores. Danni Suzuki e Emiliano Ruschel, apesar de suas tentativas de brilhar, frequentemente se perdem em diálogos que poderiam estar em qualquer filme romântico que costumam passar à tarde na TV.

A trilha sonora, uma presença onipresente e excessiva, tenta forçar emoções onde o roteiro falha. É como se o filme estivesse gritando: "Ei, isso é um thriller dramático!" enquanto os diálogos, muito mais sutis, fazem o trabalho pesado. Afinal, quem precisa de nuance quando se pode contar tudo com um violino choroso?

Os temas, que prometem uma reflexão sobre a autenticidade nas relações, se perdem em um mar de superficialidade. A ideia de que um casamento pode resistir a um crime é, no fim das contas, tão original quanto um vestido de noiva de papel. E o “surpreendente” final é apenas a cereja do bolo de um enredo que já nasce com cara de abortado.

Por mais que a produção tenha conquistado prêmios em festivais internacionais, “Segredos” é um testemunho de como o reconhecimento pode ser tão efêmero quanto os segredos que o filme tenta explorar. Em resumo, se a intenção era provocar reflexão, o que fica é apenas o desejo de que o público leve para casa algo mais valioso do que as promessas vazias da tela. Uma boa surpresa? Só se considerarmos o quão rapidamente se pode esquecer dela.

Por Mauro Senna

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