Festival do Rio - Todos os que Você É

 

“Todos os que Você É”  de Michael Fetter Nathansky revela um filme ambicioso que, embora estéticamente interessante, oscila entre a profundidade emocional e a teorização excessiva. A narrativa se enreda na mente da protagonista Nadine, interpretada com sutileza por Aenne Schwarz, que enfrenta a dura realidade do amor em declínio. Desde a cena inaugural, a escolha da vaca como símbolo do relacionamento com Paul (Carlo Ljubek) provoca um questionamento sobre a natureza do afeto e a percepção de identidade no amor.

O filme nos apresenta uma Nadine que se desvincula da imagem da mãe sacrificada, desafiando as expectativas patriarcais. No entanto, a sua aparente falta de empatia em relação a Paul levanta questões sobre suas motivações e o verdadeiro significado do amor que eles compartilharam. As metamorfoses de Paul, representado ora como uma criança, ora como uma vaca, adicionam uma camada de complexidade, mas, em contrapartida, obscurecem sua essência, tornando difícil compreender sua verdadeira natureza.

À medida que o filme se desdobra através de flashbacks e momentos cotidianos, o espectador é convidado a explorar um labirinto emocional que, por vezes, parece se desviar do seu propósito. As representações são poéticas, mas, em alguns momentos, a narrativa se perde em abstrações, deixando a audiência à mercê de interpretações que podem não ressoar com a experiência vivida dos personagens.

A relação de Nadine e Paul é marcada por silêncios e não ditos, um eco de sentimentos reprimidos que, embora intrigantes, acabam por tornar a trama um tanto ineficaz em sua capacidade de engajar emocionalmente. O filme, com suas metáforas visuais e sua busca por uma verdade subjacente, se vê preso em sua própria teia de complexidade, dificultando a conexão íntima que a história exige.

Assim, “Todos os que Você É” é uma reflexão sobre as identidades fragmentadas e as ilusões que construímos, mas que, em sua busca por profundidade, acaba se revelando uma experiência paradoxal: rica em estética, mas, por vezes, pobre em empatia.

Por Mauro Senna

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