Três Irmãos

 

Três Irmãos

Ao som pulsante e fervilhante das terras sertanejas, um espaço qualquer, a despeito de dimensões e geolocalização, se faz palco que se ergue como um altar para as memórias e os lamentos de uma família expulsa de suas terras, lançada às incertezas da jornada rumo a um novo destino. Sob a égide do mestre das palavras Jorge Amado, e do talento do diretor visionário Vinicius Baião, o espetáculo "Três Irmãos" não apenas revive memórias, mas resplandece com a intensidade das agruras e esperanças que permeiam a alma brasileira.

É com habilidade ímpar que Baião conduz sexteto dramatúrgico por entre os labirintos poeirentos da narrativa, tecendo com maestria os fios invisíveis que conectam o passado ao presente. Sua direção é como uma brisa suave que acaricia a pele ressequida do sertão, revelando, em cada gesto e movimento, a essência visceral dos personagens.

Ao seu lado, a assistência de direção de Higor Nery se revela como uma bússola confiável, orientando o elenco com precisão e sensibilidade. Seus olhos perspicazes captam o potencial dentre nuances e sutilezas que enriquecem a encenação, tornando-a ainda mais profunda e impactante.

O elenco, composto por Elizandra Souza, Gabriela Estolano, Higor Nery, Leandro Fazolla, Madson Vilela e Rohan Baruck, empresta suas vozes e corpos para dar vida aos três irmãos e às figuras que povoam o árido cenário do sertão. Sua entrega apaixonada e comprometida ressoa em cada palavra pronunciada, em cada olhar trocado, em cada suspiro de desespero e de esperança. Mantendo a proposta minimalista do espetáculo enquanto despojado de recursos cenográficos, Baião lança mão do figurino de Flávio Souza e da iluminação de Ana Luzia de Simoni como se um artista plástico fosse e dispara pinceladas de luz, cores e texturas sobre fundos infinitos e texturizados contemplando tons, ora de melancolia, ora de esperança. Estruturado em sensibilidade estética, é criada uma atmosfera dramática capaz de transportar o espectador para o coração do sertão imerso nas vicissitudes da jornada dos protagonistas.

A preparação corporal e a direção de movimento de Gabriela Luiz conferem ao espetáculo uma experiência repleta de organicidade e fluidez que cativam o olhar e emocionam o coração do espectador.

Cada gesto, cada movimento são carregados de significado, revelando as emoções e os conflitos que habitam o íntimo dos personagens. A consultoria em mágica de Henri Sardou agrega um toque de mistério e encantamento à narrativa, evocando os rituais e as crenças populares que permeiam o imaginário do sertão. Suas contribuições sutis e envolventes adicionam uma camada de profundidade e autenticidade à encenação. A direção musical e a trilha sonora de Ananda K definem o pulsar do coração do sertão tal e qual um preciso marcapasso, que ecoa com a cadência dos tambores e o lamento das violas. Com sua sensibilidade e talento, é criada uma atmosfera sonora rica e envolvente que acompanha e enriquece cada momento da narrativa, como um fio invisível que conecta passado e presente, realidade e sonho.

Surpreendentemente, "Três Irmãos" se faz mais do que um simples espetáculo teatral. É uma jornada emocional e intelectual, que convida os amantes da leitura e das artes cênicas para uma reflexão sobre as jornadas presentes em cada um de nós – nossas próprias lutas e esperanças. Sob a luz do sertão, somos todos irmãos, caminhando juntos em busca de um destino incerto, mas repleto de possibilidades.

resenha: psales e msenna

foto:msenna

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