A Falecida

 

A Falecida

A remontagem da peça teatral de autoria de Nelson Rodrigues, considerada a primeira de suas “tragédias cariocas” – "A Falecida", sob a direção de Sergio Módena, destaca-se pela excelência das performances dos atores, potencializada pela meticulosa preparação corporal do elenco, conduzida brilhantemente por Laura Samy.

Ausente dos palcos há cerca de onze anos, Camila Morgado se agiganta ao incorporar Zulmira, ao lado de Thelmo Fernandes, que cede a Tuninho, marido da suburbana protagonista, a sua capacidade veterana de incorporar a malandragem carioca.

A inclusão de Stela Freitas ao elenco como atriz convidada, respalda o respeito e o respectivo zelo para com a obra atemporal do “Anjo Pornográfico”, lapidada pelo diretor como um exercício de evocação histórica.

Mas não só o desempenho magistral do trabalho de Samy é responsável pelo resgate da atmosfera da zona norte carioca dos anos 50, mas a sua associação ao impecável e sugestivo figurino de Marcelo Olinto e ao cenário concebido por André Cortez que, embora marcado por um grande mausoléu, transcende as limitações temporais e desempenha papel marcantemente sugestivo, contribuindo para com o desenvolvimento da capacidade de leitura da arte sob o ponto de vista subliminar, por parte do espectador.

A trilha sonora composta por Marcelo H desempenha papel fundamental na ambientação da peça, explorando o conflito entre o sagrado e o profano de forma impactante. Em sua essência, "A Falecida" continua a ressoar com força e relevância, abordando temas universais como falsa moralidade, hipocrisia e fanatismo religioso.

No entanto, é a complexidade das personagens e a maneira como lidam com suas próprias angústias e desejos que tornam o espetáculo genuinamente atemporal – tal e qual Zulmira, como um reflexo da condição humana, enredada em uma teia de culpa, desejo e redenção.

A montagem de Módena, além de prestar um digno tributo ao legado de Nelson Rodrigues, destaca não apenas a relevância contínua das questões levantadas pelo autor, mas também o poder transformador do teatro, através de uma reflexão sobre a natureza da vida e da morte e sobre a complexidade da experiência humana.

Resenha: psales e msenna

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