Wish: o Poder dos Desejos

 

O 62º filme de animação produzido pela Walt Disney Animation Studios é concebido em formato musical, contemplando uma narrativa adocicada e permeada por nobres intenções. Lamentavelmente, ‘Wish: o Poder dos Desejos’ é conduzido por um enredo destituído de inspiração e sustentado pelo desenvolvimento debilitado de seus personagens.

Assumindo descaradamente a condução de um plágio, a jovem protagonista Asha (Ariana DeBose), com 17 anos de idade, encontra-se amparada por sete companheiros cujas personalidades e vestimentas evocam os anões do clássico longa de animação de 1937 – contextualizados em meio a uma atmosfera bucólica contemplando casas cobertas por telhado de palha e bichinhos fofos ao seu redor. Seu auxiliar – o bode Valentino (Alan Tudyk) – assume o papel de mais um clichê de produções de diversos estúdios de animação, personificando um carismático animal falante como o confidente do líder. Por fim, a premissa padronizada do filme – evocar um pedido a uma estrela – configura-se como um rito de passagem para praticamente todos os personagens da Disney, independentemente de ser uma princesa ou o pai idoso de um boneco de madeira.

Sob a égide do Rei Magnífico (Chris Pine) – um feiticeiro e erudito mago com poderes de realizar os desejos das pessoas – o reino medieval de Rosas atrai ansiosos residentes para serem os eleitos na cerimônia de realização de desejos conduzida pelo Soberano. Diante desse cenário, Asha almeja tornar-se aprendiz do rei e persuadi-lo a realizar o desejo de seu avô, quando do seu centésimo aniversário.

‘Wish’ padece da carência de propósito, de uma narrativa verdadeiramente emocional e, quase tão significante, da espirituosidade presente em se tratando de um musical de animação. Ao invés de explorar o fascinante tema filosófico de renunciar a “ambição” pela segurança, "Wish" comercializa, em larga escala, a ilusão de restituir o sonho àqueles que o abordam como uma espécie de título de capitalização. Essa abordagem reforça a concepção de que um pagamento único por grandiosos sonhos é preferível à persistência ao longo do tempo, mesmo que alguns indivíduos se transformem em sombras de si mesmos ao perderem a capacidade de desejar.


O roteiro, abarrotado de ideias difusas, priva o longa de uma essência conceitual digna de reconhecimento. A combinação dos cenários 2D com personagens 3D contemplando design de última geração confere uma estética singular à película. A opção pela concentração exclusiva da ação e da trama na cidade de Rosas também configura um diferencial dos Studios Disney, em meio a uma tendência de os filmes de animação transitarem em locais diversificados e inserirem personagens de origens distintas. O destaque dado ao Rei Magnífico não condiz com a carência de carisma do personagem como vilão, a despeito da sua capacidade de transmissão da sua essência como homem mágico, vaidoso e ávido por poder, que acredita que todos devem ser gratos pela sua capacidade seletiva de realização dos desejos de seu povo.


A trama subdesenvolvida de ‘Wish’’ não está à altura da qualidade do filme enquanto animação, apesar de que a sua conclusão, de forma peculiar, tem ares de uma versão genérica dos mais bem-sucedidos contemporâneos da Disney, que não são desprovidos de complexidade resultando, em última análise, em um acervo de indagações quantitativamente mais generoso do que o universo de esclarecimentos em favor do público alvo. 


resenha: psales e msenna


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