O Jovem Frankenstein - Uma experiência teatral irretocável
Esta resenha crítica assume, num primeiro momento, um viés de resgate informativo, a partir da idealização de uma história pela jovem londrina Mary Shelley, de 18 anos de idade, entre os anos de 1816 e 1817, e publicada pela primeira vez em 1818, sem crédito pela sua autoria, sobre uma criatura – até hoje sem nome – criada por um cientista chamado Victor Frankenstein, a partir de partes de cadáveres humanos. Em 1831, a história é revisada e novamente publicada – dessa vez com o crédito devidamente imputado a Shelley – servindo como base para adaptação em diversas produções cinematográficas e teatrais, tendo como ícone cult o longa com 70 minutos de duração, dirigido por James Whale e estrelado por Boris Karloff, no papel da criatura monstro, lançado em 1931, intitulado Frankenstein.
Em 1974, Gene Wilder e Mel Brooks desenvolvem o roteiro de um filme, contemplando os gêneros comédia, sci-fi e terror intitulado ‘O Jovem Frankenstein’, baseado na obra de Shelley, dirigido por Brooks, rodado em preto e branco e tendo como cenário o mesmo castelo do filme Frankenstein, de 1931.
Cerca de três décadas após ter alcançado o sucesso nas telas dos cinemas, ‘O Jovem Frankenstein’ é readaptado e conduzido aos palcos teatrais estadunidenses sob a forma de um musical, cujo roteiro é assinado por Mel Brooks e Thomas Meehan.
Após a sua última montagem em Londres, no ano de 2017, a paródia do filme de terror de 1931 é novamente adaptada aos palcos brasileiros pela dupla Charles Möeller e Claudio Botelho, sob os olhares de aprovação do próprio Brooks, que surpreende o público com a maestria com que os números musicais são conduzidos, com o excelente e atualizado timing cômico e com o respeito às frequentes ingênuas piadas de espírito infantil.
O desinibido e entrosado elenco é composto por Marcelo Serrado, protagonizando brilhantemente o título do espetáculo com o jovem Frederick Frankenstein, na companhia de: Dani Calabresa, que cede a sua espirituosidade à divertida Elizabeth Benning; Totia Meireles, que brilha como a inspirada Frau Blücher; Malu Rodrigues, que adiciona charme eloquente à singular Inga; Fernando Caruso, que traz desenfreada comicidade ao pseudo melífluo Igor e sua corcunda errante; Bel Kutner, que dá excentricidade ao personagem Kemp; além da inesquecível incorporação do ermitão por Cláudio Galvan – um dos momentos mais elegantes e divertidos do musical. Coroando o espetáculo, a excepcional interpretação de Hamilton Dias, que repagina a criatura monstro, e a imagem icônica da comédia de terror, de forma explícita.
A atmosfera gótica evocada na concepção do cenário por Charles Möeller efetiva a diversidade de cenas no interior do assustador castelo e de seus arredores, quando das tomadas externas, na aterrorizante Transilvânia. Paulo César Medeiros assina a luminotecnia cênica e, através de sua arte, confere precisos contrastes promovidos pelos efeitos de luz e sombra, foco e difusão, em meio a um turbilhão de cores que potencializam as diversas disciplinas presentes no palco. Os trajes de época concebidos por João Pimenta, juntamente com as perucas e penteados de Feliciano San Roman, conferem autenticidade ao clima, ao tom e à originalidade dos personagens. A caracterização realizada pelo design de maquiagem – Beto França traveste o horror e a beleza humana com sutil empatia – em especial junto ao mosaico cadavérico de partes humanas, conferindo a Hamilton Dias poderes para elevar o status de seu papel, a ponto de cativar o público de forma apaixonada pela criatura.
Os extasiantes números musicais transportam a plateia para os anos 1930 repleta de glamour com sua impecável linha de coro ao som da orquestra sob a regência irretocável do maestro Marcelo Castro, percutidos pelo indissociável trabalho do design de som André Breda, conferindo credulidade à atmosfera de terror ao espetáculo. O estilo Fosse é claramente identificado na coreografia de Roberta Serrado e Joane Mota, atingindo seu ápice na apresentação de 'Puttin' On the Ritz' ao alavancar aplausos da plateia em pé de forma genuína e diferenciada, bem no estilo “a Broadway é aqui”.
'O Jovem Frankenstein' é uma experiência teatral irretocável, sob a responsabilidade da dupla mais que bem sucedida na produção de musicais icônicos – Möeller e Botelho, dessa vez, no universo Mel Brooks.
resenha realizada por: psales e msenna
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