Helena Blavatsky, a voz do silêncio - Uma representação vívida da Teosofia moderna

 

Uma representação vívida da Teosofia moderna, tal como sistematizada por Madame Blavatsky, repleta de aforismos que apontam os caminhos para a iluminação do ser – em poucas palavras, a essência do conteúdo textual contido em 'Helena Blavatsky, a voz do silêncio' sob a lapidar direção de Luiz Antonio Rocha, cuja veia artística se permite exceder a dedicação prestada a uma produção teatral raramente concebida, levando ao público uma obra de arte em movimento e cuja plástica invade os olhos e chega à mente dos espectadores contemplando pinceladas barrocas.

Imbuído de dedicação preciosista, Rocha planta uma instalação, meticulosamente concebida diante do público teatral, retratando a modesta residência londrina de Helena Blavatsky, do final do século XIX, onde a chama de uma vela lança seus lumens em direção aos últimos momentos de vida da escritora russa. Em total domínio de seu semblante, de seu olhar em conexão direta ao olhar de cada um dos espectadores presentes, e de sua voz, cujo tom e ritmo são evidências de uma irretocável capacidade cognitiva da locutora, Blavatsky revisita, em suas memórias, seu vasto conhecimento adquirido ao longo de jornadas pelos quatro cantos do mundo e de sua profunda conexão com a Índia – potencializada pelo contato direto com Mahatma Gandhi, em Londres.

O texto original de Lúcia Helena Galvão explora temas como o papel do discípulo, a jornada do iluminado e os desafios desse percurso com intenso choque de realidade, cuja rigidez, muitas vezes, parece dissipar as palavras como folhas ao vento.

Beth Zalcman se impõe, mais uma vez, como magnífica intérprete dos papéis que assume. Como Blavatsky, abraça com nobreza o compromisso humano, permitindo que, através de seu talento, as vendas da cegueira social sejam removidas, expondo ensinamentos cruciais emanados pela personagem, como a separatividade materializada em nossa sociedade egoísta e segregacionista.

A essência do espetáculo, para aqueles não familiarizados com as obras de Helena Petrovna Blavatsky, pode, inicialmente, parecer obscura. Contudo, as ideias e valores que permeiam o palco se entrelaçam de forma simbiótica com o cenário e os figurinos concebidos por Eduardo Albini e com o visagismo materializado por Mona Magalhães, que acolhem o espectador numa jornada de sessenta minutos de espetáculo. O terceiro elemento responsável pela visibilidade concreta das cenas concebidas por Luiz Antonio Rocha repousa no desenho de luz de Ricardo Fujii, que meandra por entre quadros minimalistas e apoteóticos, marcados pela dramaticidade definida por religiosidade, realismo, pela busca da fé por meio de sentidos, pela grandiosidade temática, pelo intenso apelo emocional, pela teatralidade, pela representação do espaço em movimento e pela exuberância dos efeitos de luz e sombra.

'Helena Blavatsky, a voz do silêncio" aprofunda o significado da gnose e do sacrifício, sem um único movimento em falso que possa resultar em monotonia, no declínio do espírito de Dionísio ou na especulação filosófica da tradição budista, promovendo uma experiência teatral que desafia a mente e toca a essência do ser, deixando uma marca indelével na jornada daqueles que a testemunham.
resenha: psales e msenna

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