Animais Fantásticos: Os Segredos de Dumbledore

 

Em sutil paralelismo ao mundo real – contemplando a liderança ditatorial nazista na tentativa de definição de uma Nova Ordem de hegemonia alemã na Europa durante os anos 1930 e ao autoritarismo explícito por parte de chefes de Estados da política contemporânea – a escritora JK Rowling e o co-roteirista Steve Kloves traçam um sombrio thriller político tendo como pano de fundo um processo eleitoral para candidatos a Chefe Supremo da Confederação Internacional de Bruxos. Ao contrário dos processos democráticos que definem a mão do poder, a arbitragem para essa definição é conferida a uma pequena criatura pertencente ao reino dos animais fantásticos, denominada bebê Cervo, capaz de captar a essência do caráter de uma pessoa.

Ao tentar transmitir esperança em meio a uma atmosfera sinistra no terceiro filme da franquia, em “Animais Fantásticos: Os Segredos de Dumbledore”, David Yates enfrenta uma crise existencial que desobriga os jovens espectadores perceberem o elo com a geração de bruxos subsequente que protagonizou a franquia Harry Potter – a despeito da atualizada linguagem comportamental que introduz assuntos essenciais na formação do ser humano.

Apesar da cronologia dos fatos lançarem Animais Fantásticos para uma fase pré Harry Potter, os recursos tecnológicos que envolvem imagem, som e computação gráfica têm sido capazes de definir um padrão de leitura para ambas as franquias. Em meio a muitas cenas repletas de dinamismo, não raras as que chegam a driblar a percepção visual dos mais atentos dentre os espectadores, em especial, os muito antenados são presenteados com pérolas que remetem à saga do jovem bruxo. Yates não poupa os cinéfilos dos prazeres visuais e auditivos, quando os convida para uma viagem recheada de cenas que contemplam o Art Déco Nova Iorquino, a combinação eclética de estilos arquitetônicos do Reino Unido, e incríveis cenas em comunidades mágicas do Butão, Alemanha, China, e com direito a dois segundos de fama para a Cidade Maravilhosa, embalados por uma trilha sonora impecável.

Tendo em vista o ensaio do roteiro em torno da definição de um link para o primeiro filme da franquia Potter, o complemento do título para os segredos de Dumbledore deveriam contemplar segredos sobre o bruxo, muito mais do que a aspectos de sua genealogia ou de sua orientação afetiva.

“Animais Fantásticos: Os Segredos de Dumbledore” é nitidamente direcionado aos fãs adultos de Potter e negligencia os espectadores da nova geração. Embora a política esteja presente durante os cento e quarenta e três minutos de projeção, o enredo é apartidário, mas centrado em três núcleos: Bruxos, Vilão e Líder Disruptivo renegando a magia como premissa para a solução dos problemas do mundo dos trouxas.
Resenha: Paulo Sales e Mauro Senna

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