Benedetta - Fantasias eróticas com Jesus Cristo

 



Um intrigante diálogo entre desejo sexual e duas mulheres consagradas à vida religiosa contido na mais recente obra do holandês Paul Verhoeven.

O drama conta a peculiar história de Benedetta Carlini, filha única de uma família de classe média italiana que, por manifestar o dom da realização de milagres, foi encaminhada por seus pais, ainda muito jovem, para a ordem das irmãs teatinas no convento da pequena cidade medieval de Pescia na região da Toscana. Porém, os vinte e três anos, distúrbios a levam a ter visões com a Virgem Maria, com quem alega ter a capacidade de dialogar, e fantasias eróticas com Jesus Cristo, além de apresentar episódios de possessão e sinais de estigmas.

Ao acolher Bartolomea Crivelli, que lhe roga abrigo e proteção, dá-se início a uma relação que a aprisiona pelo dualismo arquitetado pela sua fé cristã católica e pelo desejo por uma outra mulher. Contudo, sua ardilosa sagacidade a leva a ascender à hierarquia de Madre de Deus e de abadessa e a um embate entre a, até então, madre superiora e o enviado do Vaticano.

O primoroso trabalho historiográfico, embasado em fatos reais sobre o processo eclesiástico datado do século XVII, é reconstruído de forma insólita e belissimamente trágica em sua narrativa intimista, real e sensível, capaz de prender a atenção do espectador do início ao fim da narrativa.

A sátira sociopolítica descomprometida no despertar sexual emaranhado em uma aura erótica espiritual se sobrepõe ao livro ‘Atos Imodestos’ de Judith C. Bowen no qual “Benedetta” é baseado - às vezes severo, beirando um drama histórico contemplando comicidade corrosiva.

Um thriller erótico que se deleita em blasfêmia, que sangra o profano e vibra erotismo explosivo a partir de uma a estatueta da Virgem Maria esculpida em madeira e que assume um formato fálico, de um Cristo crucificado nu com genitália feminina, de corpos se contorcendo em clímax prazeroso em lugares sagrados e de torturas em nome de Deus.

Verhoeven desenha a desfaçatez de um ser fictício que não protege ninguém quando é invocado que, para entrar em sua “casa”, as pretendentes à suas esposas devem ter “dote” financeiro. O eufemismo compreendido por aqueles que falam em nome do inexistente ser, levam a praga e o negacionismo àqueles no qual o desejo e o amor são consumos impensáveis.

Benedetta tem contexto lesbian chic inserido numa cultura de repressão, onde a coletividade que olha para o céu esperando que suas vidas melhorem, não alcança a humanidade que o chão exige e que, em nome de uma divindade imposta, apenas criam novos pecados e segredos de alcova.

resenha: psales e msenna

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