Cala a Boca e Me Beija
Digamos que o amor seja uma ideia falida — um condomínio em crise emocional, onde ninguém quer remunerar o síndico pelos préstimos à coletividade e todos temem a famigerada reunião de casal, marcada em primeira chamada para as 19h. Sob esse olhar, Cala a Boca e Me Beija não é exatamente uma peça sobre o amor, mas sobre o que acontece quando duas pessoas decidem continuar juntas, mesmo quando a louça suja já se tornou o terceiro elemento da relação. Tudo isso é dito com a verve de quem tomou café expresso demais e leu Freud de cabeça para baixo. O texto de Bia Montez e Fátima Valença funciona como um diário de neurose a dois: frenético, engraçado, tragicômico — e, em certos momentos, assustadoramente próximo da realidade. Não por falar de amor, mas por dissecar o cotidiano com um bisturi cômico e embrulhar tudo num papel de presente amassado, com laço frouxo e um bilhete: “Me desculpa, foi o que deu pra fazer.” O diretor Ernesto Piccolo, por sua vez, assume o comando com a ...