Bizarros Peixes das Fossas Abissais

 

O primeiro longa-metragem de animação do veterano cineasta Marão é uma experiência tão única quanto a hipótese da existência de rinocerontes extraterrestres navegando pelo cosmos – um  profundo mergulho na imaginação em celebração à ousadia do diretor na exploração de territórios cinematográficos incomuns.

 
O desenvolvimento da trama conta com o desempenho de uma super-heroína com poderes esdrúxulos, uma nuvem com “incontinência pluviométrica” e uma tartaruga acometida por Transtorno Obsessivo Compulsivo, conferindo à obra de Marão a potência  de uma colisão cósmica contemplando elementos surreais. No entanto, a genialidade do filme reside na habilidade do diretor em conectar essas excentricidades, aparentemente desconexas, tecendo uma narrativa que transpira libertação de amarras.

 
A consciente técnica artesanal da animação é um deleite visual, destacando-se em um cenário cinematográfico saturado por CGI. Em um gesto quase anacrônico, Marão desafia a norma estética contemporânea, optando por um estilo autoral que ecoa seus curtas-metragens premiados. A diferente semântica entre os mundos preto e branco e colorido adiciona uma camada intrigante à experiência, enquanto a conexão tardia entre esses elementos só intensifica o caos criativo.

 
Entretanto, "Bizarros Peixes das Fossas Abissais" não é imune a críticas. O enredo, embora inusitado e criativo, sofre de momentos prolongados que, apesar da beleza da animação, parecem arrastar-se. A mistura de gêneros, que vai da comédia à ação, passando por momentos dramáticos, é como um cardápio caótico que, em alguns momentos, parece ter saído de uma mente adolescente.

 
Em sua busca pela originalidade, o filme exige que o público abrace a estranheza, os excessos e o humor que ocasionalmente se assemelham aos de uma sala de aula da quinta série. É uma aventura cinematográfica peculiar, adequada para aqueles dispostos a se perderem nas profundezas abissais da excentricidade cinematográfica.

 

resenha: psales e msenna