Tom Jobim Musical
Tom Jobim Musical é mais do que um espetáculo teatral: é uma imersão na alma da música brasileira. O público embarca em uma viagem pelas notas que deram vida à Bossa Nova, vivenciando uma experiência cuidadosamente concebida para traduzir, em pura arte, a essência de Tom Jobim e Vinícius de Moraes.
A estrutura da peça revela-se harmônica desde os primeiros momentos, graças à direção precisa de João Fonseca. Seu olhar cuidadoso e envolvente traduz a poesia de Jobim e Vinícius no palco, criando uma atmosfera onde o público sente a música antes mesmo das primeiras notas. Ao explorar as sutis nuances do tempo e da emoção, a direção musical de Thiago Gimenes, em parceria com Ivan de Andrade e Tiago Saul, resgata arranjos e orquestrações de maneira encantadora, equilibrando fluidez e harmonia. Juntos, eles trazem à cena a intensidade da Bossa Nova, com uma musicalidade que transita do delicado ao explosivo.
No campo sonoro, Tocko Michellazo é o mestre por trás da qualidade impecável do áudio, captando cada nuance sonora com precisão. Seu trabalho garante que a música chegue aos ouvidos da plateia de maneira cristalina, ampliando ainda mais a experiência sensorial do espetáculo. Embora discreto, o cuidado com a sonorização é essencial para criar uma atmosfera sonora que, sem ser notada, envolve o público, conectando-o profundamente à magia do musical.
O desempenho de Elton Towersey como Tom Jobim é uma verdadeira celebração da sensibilidade e musicalidade que definem a essência do ícone. Sua voz, que transita com naturalidade entre a juventude e a maturidade, revela a jornada emocional e musical de Jobim de forma irresistivelmente serena, sem abrir mão da intensidade criativa que marcou sua época mais brilhante. Otávio Muller, no papel de Vinícius de Moraes, mergulha na alma do poeta com uma suavidade baiana única, criando uma química palpável, vibrante e profundamente cativante entre ele e o público.
O espetáculo se abre para a plateia como um céu iluminado por uma constelação de estrelas, cada uma delas trazendo à tona a importância de gigantes como Elza Soares, Jair Rodrigues, Elis Regina e João Gilberto. As atuações de Analu Pimenta, Lucas da Purificação, Tainá Gallo e Jean Amorim são um verdadeiro tributo à energia vibrante e à força dessas lendas, que, em seus palcos, transbordavam musicalidade e paixão. A decisão de incluir esses ícones no musical não é apenas uma homenagem, mas um resgate caloroso e imprescindível, celebrando a grandiosidade daqueles que, com suas carreiras solo, ajudaram a moldar a base da música brasileira.
A cenografia de Natália Lana e Nello Marrese evoca a suavidade das ondas do mar, criando um cenário que não apenas encanta os olhos, mas também transporta o público para a atmosfera praiana do Rio de Janeiro, com a leveza de uma 'tardinha que cai'. O calor do ambiente e a serenidade das ondas combinam com o design de vídeo de Batman Zavarese, que acrescenta uma camada visual que complementa a música, convidando os espectadores a se perderem na beleza e na nostalgia da era de ouro da Bossa Nova.
A iluminação de Caetano Vilela é uma peça essencial na construção sensorial do espetáculo, transformando a luz em um verdadeiro personagem que dá vida ao palco. Com maestria, ele molda o espaço e cria sombras delicadas que dançam ao ritmo da música, enquanto destaca o elenco de forma tão íntima que o público se sente como parte da cena, imerso nas histórias e canções. A luz também trabalha em perfeita harmonia com o figurino e o visagismo, delineando as nuances e transições das cenas, capturando a essência da Bossa Nova e conduzindo o espectador através da narrativa com uma fluidez poética.
O figurino de Theodoro Cochrane é impecável, capturando a elegância sutil dos anos 60, com cores que vibram em sintonia com a música e refletem a atmosfera da época de maneira delicada e envolvente. O trabalho de Anderson Bueno e Simone Momo no visagismo também se destaca, ajudando a criar uma transformação visual que conecta os artistas aos ícones que interpretam. Cada detalhe, seja no cabelo ou na maquiagem, contribui para um retrato emocionalmente verdadeiro dos músicos originais, complementando e intensificando a experiência sensorial e artística do espetáculo.
Por fim, a produção geral, sob a responsabilidade de Luiz Oscar Niemeyer, Júlio Figueiredo e Bárbara Guerra, reflete não apenas o profissionalismo, mas também a paixão e a resistência necessárias para a realização de um musical dessa magnitude no Brasil. A dedicação incansável de todos os envolvidos, artistas, técnicos e criadores, transforma o espetáculo em uma verdadeira obra de arte. A sinergia impecável entre as equipes torna Tom Jobim Musical uma experiência cativante e inesquecível. Mais do que uma simples homenagem a Tom Jobim, o musical é um portal vibrante para a beleza e a nostalgia de uma era musical imortal. É uma celebração sensorial, onde cada acorde, cada luz, cada movimento e cada nota transportam o público para a alma da música brasileira, reverenciando a beleza que permanece nas entrelinhas das canções que continuam a ecoar no imaginário coletivo de todos os brasileiros.
Por Mauro Senna
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