Festival do Rio - Um Caso Comun
"Um Caso Comum", a mais recente incursão de Daniel Auteuil no cinema, é uma tentativa ambiciosa de abordar os meandros da defesa criminal, mas a obra se perde em um labirinto de clichês e construções narrativas frágeis. Com uma premissa que poderia render um estudo profundo sobre a condição humana e as nuances do sistema judiciário, o filme acaba se reduzindo a um desfile de reviravoltas previsíveis que não conseguem sustentar a carga dramática que prometem.
A premissa é simples: Jean Monier (Auteuil), um advogado determinado, se vê diante do caso de Nicolas Milik (Grégory Gadebois), acusado do assassinato da esposa. Auteuil apresenta-se como um advogado que, ao longo do processo, luta contra a maré da injustiça, um papel que, a despeito de suas boas intenções, não se materializa em uma narrativa que convença. Ao invés de uma construção sólida de personagens e enredos, o filme se entrega a um roteiro que parece feito para se encaixar em uma fórmula de sucesso.
A sequência de audiências, os depoimentos e os interrogatórios são apresentados de forma quase didática, mas sem a profundidade que o tema merece. As trocas de diálogos, longe de serem incisivas, carecem de substância, resultando em um vazio emocional que não ressoa com a gravidade da situação. A escolha de retrocessos temporais, que poderia ter servido para humanizar os personagens, acaba por se tornar um artifício que prolonga a narrativa de maneira desnecessária.
O que se apresenta como um thriller psicológico se transforma em uma série de clichês que já foram exauridos em inúmeras obras anteriores, desde os dramas televisivos até os filmes de tribunal que se tornaram quase uma marca registrada do cinema francês. A falta de originalidade não é apenas uma falha estética, mas um desvio ético, que subestima a complexidade dos sistemas judiciários e a fragilidade humana.
Além disso, a busca de Auteuil por uma profundidade emocional resulta em momentos que mais parecem manipulação do que sensibilidade. A linha entre a defesa apaixonada e a exploração do sofrimento alheio se torna tênue, deixando o espectador a questionar a ética de um advogado que, em sua obsessão por salvar um cliente, acaba se perdendo em suas próprias motivações.
O filme, embora tenha sua capacidade técnica, falha em oferecer uma reflexão genuína sobre a condição de inocência e culpa, transformando a figura do advogado em um herói romântico, quando na verdade, ele é um mero coadjuvante em uma trama que se desenrola com a inevitabilidade de um drama banal. No final, "Um Caso Comum" não faz justiça nem ao seu título, nem à rica tapeçaria de histórias que poderia explorar, deixando o espectador com um gosto amargo de frustração e desapontamento.
Por Mauro Senna
Comentários
Postar um comentário