A Metade de Nós

 

A Metade de Nós

A tese psicológica que emerge em "A Metade de Nós" – longa sob a direção do diretor, roteirista e produtor cinematográfico Flavio Botelho – é uma exploração profunda da complexidade do luto e da sobrevivência do enlutado após o suicídio de um ente querido. O enredo oferece uma visão rara e corajosa da jornada emocional enfrentada e da maneira como lidam os pais que perderam seu único filho.

Uma das mais relevantes reflexões psicológicas que o filme evoca é a maneira como a sociedade muitas vezes lida com o tema do suicídio, com o tabu e com a vergonha associados a essa forma de morte que, muitas vezes, resulta em um silêncio coletivo e em uma falta de apoio para aqueles que ficam para trás. O filme desafia os espectadores com essa narrativa, colocando o suicídio e suas repercussões como ponto central do tema, forçando os espectadores a se confrontarem com essa realidade.

Outro aspecto relevante abordado pelo roteiro é a representação das diferentes formas de lidar com o luto. Enquanto o pai expressa sua tristeza de forma aberta e emotiva, a mãe opta por reprimir suas emoções e por se proteger da culpa e da dor que sente. Essas diferentes estratégias de enfrentamento são ricamente ilustradas pelas complexas interpretações de Cacá Amaral e Denise Weinberg – como os enlutados em suas experiências altamente individuais, moldadas pelas personalidades, pelos relacionamentos e pelo contexto social de cada um.

O filme também lança luz sobre a importância de se abordar abertamente questões de saúde mental e de buscar apoio quando necessário. Através da história do filho suicida, o público é convidado a refletir sobre a fragilidade da mente humana e sobre a necessidade de se investir em recursos e políticas que promovam a saúde mental e previnam o suicídio – uma eficiente receita para aqueles que têm dificuldade de resistir às tensões provocadas pela exploração psicológica do luto e suportar a dor com resiliência necessária.

resenha: psales e msenna